De Friends aos key clubs: por trás da nova tendência de relacionamento, uma história mais antiga e mais libertadora do que muitos imaginam
Uma cena clássica da série Friends, exibida em 1994, voltou a circular recentemente nas redes sociais. No episódio, Chandler Bing (Matthew Perry) compartilha com seus amigos uma “lista de cinco mulheres famosas” com quem ele teria autorização para se envolver, caso surgisse a oportunidade, mesmo estando em um relacionamento com Janice. Tratada como uma piada leve na sitcom mais popular dos anos 90, a cena ganha, décadas depois, novos contornos. Jovens nas redes sociais a resgataram como exemplo daquilo que chamam de neomonogamia uma forma de relacionamento em que há exclusividade afetiva, mas abertura para desejos, conversas e até vivências com terceiros, em acordos bem definidos entre o casal.
Mas, embora o nome soe moderno, a prática por trás dele está longe de ser uma novidade.
O que é, afinal, a neomonogamia?
O termo neomonogamia tem ganhado força especialmente entre os usuários do TikTok, que o utilizam para descrever um novo “modelo afetivo”, mais flexível e baseado em acordos personalizados. Nesse tipo de relação, não há necessariamente traição se houver atração por outras pessoas, fantasias compartilhadas ou mesmo experiências sexuais fora do relacionamento desde que tudo seja consensual e transparente.
Ou seja: a “lista do Chandler” é uma versão popular e hollywoodiana de um pacto relacional que agora se apresenta com outra roupagem, mas que já circulava, com outros nomes e formatos, há pelo menos sete décadas.
O que é novo, afinal?
Pouca coisa além do nome. A chamada neomonogamia, em essência, dialoga diretamente com o que sempre conhecemos como relacionamento liberal, onde o foco está na autonomia, confiança e comunicação entre os parceiros, e não em normas fechadas impostas por padrões sociais.
A prática de viver o amor e o desejo de forma acordada e livre já existe há muito tempo. No Brasil, por exemplo, anúncios de casais interessados em troca de parceiros eram publicados em jornais cariocas já na década de 1970, época em que o swing começava a se popularizar entre a elite urbana.
Antes disso, nos Estados Unidos, a origem mais aceita do swing moderno remonta aos anos 1950, nos chamados key clubs, eventos discretos realizados entre casais de militares da Força Aérea, onde as chaves dos quartos eram sorteadas para promover trocas consentidas. Esses encontros, que misturavam erotismo e camaradagem, foram a semente de uma cultura liberal que se espalhou pelo mundo.
Por que então o novo nome?
A geração Z muitas vezes marcada por forte consciência política e social, tem demonstrado certa aversão a termos associados ao liberalismo ou ao que consideram “dinâmicas antigas”. O desejo por renomear práticas e redefinir conceitos pode vir também de uma necessidade legítima de distanciar-se de estereótipos que, por muito tempo, foram atribuídos de forma negativa aos relacionamentos abertos.
Se antes o swing era visto com desconfiança ou como algo restrito a festas privadas, hoje ganha um novo status, mais próximo do discurso contemporâneo sobre liberdade, saúde emocional e ética relacional. A nova nomenclatura parece ser, em parte, uma tentativa de dar novos contornos ao que já era praticado há gerações.
Entre o novo e o conhecido: o papel da liberdade relacional
No fim das contas, o que está em jogo não é a palavra escolhida, mas sim a possibilidade de viver relações que façam sentido para quem as constrói. Seja como “neomonogamia”, “relação aberta”, “poliamor” ou “swing”, o importante é que haja respeito, clareza e desejo mútuo.
E, enquanto nas redes sociais o debate segue com novas hashtags e expressões rebatizadas, em lugares como o Revolution Swing Club, a essência permanece a mesma: liberdade, respeito e acolhimento a todas as formas de amar e se relacionar. Aqui, os julgamentos ficam da porta para fora. A cada encontro, festa ou conversa, o que vale é o consentimento, o cuidado e o amor em suas múltiplas expressões. Porque mais do que rótulos, o que realmente importa é viver com autenticidade e explorar o prazer com liberdade e consciência.