Prática originada do BDSM ganha espaço em relações abertas e desafia ideias sobre intimidade, vínculo e liberdade afetiva
Imagine a cena: depois de um sexo intenso, repleto de entrega, desejo e conexão, seu parceiro simplesmente se vira e dorme. Você, ainda com o corpo acelerado e o coração exposto, se vê só física e emocionalmente. Embora o sexo tenha sido bom, algo parece faltar. O que muitos ainda ignoram é que existe uma etapa tão essencial quanto a própria relação sexual: o aftercare, ou os cuidados pós-sexo.
Muito falado nos últimos meses nas redes sociais, especialmente entre usuários do TikTok e fóruns de sexualidade, o aftercare se tornou um tema de interesse público. Mas será que esse cuidado afetuoso pós-sexo cabe também nos relacionamentos não monogâmicos e liberais? Ele fortalece ou complica os vínculos quando há liberdade para se envolver com outras pessoas?
O que é aftercare?
Aftercare é, essencialmente, uma forma de cuidado emocional, físico e psicológico entre parceiros após o sexo. Pode envolver carícias, conversa leve, beijos, abraços, massagem, ou até apenas a presença silenciosa e atenta. Mais do que gestos, é uma forma de reafirmar que o momento de intimidade foi vivido com respeito, segurança e conexão.
No BDSM, onde práticas como dominação, submissão e dor consensual exigem extrema confiança, o aftercare é essencial para garantir que ambas as partes voltem a um estado de equilíbrio emocional. Mas mesmo nas relações ditas “convencionais”, ele cumpre o papel de reafirmar o cuidado mútuo, uma necessidade humana universal.
A escritora e terapeuta sexual Holly Richmond, que viralizou no Tik Tok ao falar sobre o tema, argumenta que o aftercare não é um “extra”, mas sim a terceira etapa do sexo. Segundo ela, o ciclo sexual completo é composto por:
- Preparação emocional (ou preâmbulo): flerte, toques, beijos.
- Sexo em si: penetração, oral, ou outras formas de interação sexual.
- Pós-sexo (aftercare): transição da intimidade para o estado de reconexão emocional.
Aftercare em relações abertas: afeto é permitido?
A dúvida de muitos é: em relacionamentos liberais, onde há permissão para se envolver com outras pessoas, o aftercare é necessário? Ou pior: ele compromete os limites acordados? A resposta, muito pessoal, pois cada casal tem sua regra, mas geralmente casais adeptos da não monogamia ética, é clara: aftercare não só é permitido, como é altamente recomendado desde que esteja dentro do pacto relacional construído pelo casal.
Em contextos liberais, o carinho pós-sexo com um parceiro casual pode ou não ocorrer, dependendo dos limites definidos entre os envolvidos. Alguns casais preferem que gestos de intimidade profunda, como dormir de conchinha ou passar a noite juntos, fiquem reservados ao relacionamento principal. Outros são mais flexíveis e encaram esses momentos como parte natural da experiência. O ponto central está na transparência: o que é combinado não sai caro. E, sobretudo, não há uma fórmula universal, cada casal é responsável por definir o que faz sentido dentro de sua realidade afetiva.
O aftercare compromete a liberdade emocional?
Uma preocupação recorrente é a possibilidade de que o aftercare por seu caráter afetivo gere vínculos indesejados com terceiros. Afinal, não é só o sexo que conecta: o cuidado também aproxima. E em uma relação aberta, essa aproximação pode parecer uma “ameaça”.
Mas esse temor, muitas vezes, pode revelar inseguranças que precisam ser trabalhadas e não necessariamente um problema com a prática em si. Afinal, um relacionamento aberto não é sinônimo de indiferença emocional. Pelo contrário: pressupõe maturidade para lidar com os afetos que podem (ou não) surgir em diferentes interações.
O aftercare pode ser um momento lindo de respeito e acolhimento entre pessoas que se desejaram e viveram algo intenso. Não significa necessariamente o início de um envolvimento afetivo mais profundo. É só a conclusão de uma boa experiência.
A ausência do aftercare e a objetificação
Por outro lado, a ausência do aftercare pode provocar efeitos negativos, especialmente para mulheres. Muitas relatam se sentirem usadas ou descartadas após o sexo, como se sua função tivesse se esgotado ali. Essa percepção, infelizmente, ainda é comum em uma cultura que ensinou homens a priorizarem o próprio prazer.
Em busca de relações mais conscientes
O que o aftercare nos ensina, no fundo, é que sexo não é só performance. É presença, escuta, e principalmente, cuidado. Num mundo onde o prazer é muitas vezes tratado como um produto descartável, a prática do aftercare convida à intimidade consciente seja em relações monogâmicas ou abertas, casuais ou duradouras.
Para quem vive relações liberais e quer explorar o prazer de forma mais afetiva, segura e respeitosa, espaços como o Revolution Swing Club têm se tornado referência. Além de oferecer estrutura para encontros íntimos, o club promove uma cultura de consentimento, acolhimento e cuidado, elementos fundamentais para quem deseja viver experiências intensas sem abrir mão da humanidade nas relações.